O Rav Ashi disse: A linguagem do baraita também é precisa, pois ensina usando o termo בִּטֵּל “omitiu” e não o termo טָעָה “errou”. Isso indicaria que a halahá seria diferente no caso de erro. A Guemará conclui: De fato, aprenda com isso.
Em uma nota semelhante, os Sábios ensinaram num baraita: Aquele que errou e não recitou a reza da tarde na véspera do Shabat, reza no rito da reza noturna duas rezas do rito Amidá na noite do Shabat. Aquele que errou e não recitou a reza da tarde no Shabat, recita duas rezas do rito Amidá durante a semana na reza da noite no final do Shabat. Ele recita o rito da havdalá [a reza da distinção] entre a consagração do Shabat e a condição profana da semana, recitando: Você nos concedeu etc., na quarta bênção da Amidá, que é: Quem graciosamente concede conhecimento, na primeira reza, como é a reza vespertina real, mas não recita o rito de havdalá na segunda reza, que substitui a reza da tarde. Além disso, se ele recitou o rito de havdalá na segunda reza e não recitou havdalá na primeira, a segunda reza cumpriu sua obrigação, a primeira não cumpriu sua obrigação.
A Guemará comenta: Isso quer dizer que, como a pessoa não recitou o rito de havdalá na primeira reza, ele seria como alguém que não rezou e nós exigiríamos que ele voltasse ao início da reza e a repitisse? Se for isso, a conclusão é que aquele que não recitasse o rito de havdala na reza deveria repetir essa reza.
A Guemará levanta uma contradição com a conclusão anterior da Tossefta: Aquele que errou e não mencionou ‘o poder das chuvas’: [o trecho da reza que diz] Ele faz o vento soprar e a chuva cair, na segunda bênção da Amidá, a bênção sobre o avivamento dos mortos, e aquele que errou e deixou de recitar o pedido de chuva na nona bênção da Amidá, a bênção dos anos, exigimos que ele volte ao início da reza e a repita. No entanto, aquele que errou e deixou de recitar a havdalá na bênção: [no trecho da reza] Quem graciosamente concede conhecimento..., não exigimos que ele volte ao início da reza e a repita, pois pode recitar o rito da havdalá sobre o cálice de vinho, independentemente de sua reza. Essa contradição não foi resolvida e continua difícil.
A disputa entre os rabinos e o rabino Iehudá em relação aos tempos além dos quais as diferentes rezas não poderiam ser recitadas, está enraizada em um profundo desacordo, também manifesto numa disputa entre sábios Amoraim posteriores: Foi declarado: O rabino Iossei, filho do rabino Ḥanina, disse: A prática de rezar três vezes ao dia é antiga, embora não em sua forma atual; as rezas foram instituídas pelos patriarcas. No entanto, o rabino Iehoshua ben Levi disse que as rezas foram instituídas com base nas ofertas diárias trazidas no Templo de Jerusalém, e as rezas são paralelas às ofertas, em termos de tempo e características.
תַּנְיָא כְּווֹתֵיהּ דְּרַבִּי יוֹסֵי בְּרַבִּי חֲנִינָא, וְתַנְיָא כְּווֹתֵיהּ דְּרַבִּי יְהוֹשֻׁעַ בֶּן לֵוִי. תַּנְיָא כְּווֹתֵיהּ דְּרַבִּי יוֹסֵי בְּרַבִּי חֲנִינָא: אַבְרָהָם תִּקֵּן תְּפִלַּת שַׁחֲרִית, שֶׁנֶּאֱמַר: ״וַיַּשְׁכֵּם אַבְרָהָם בַּבֹּקֶר אֶל הַמָּקוֹם אֲשֶׁר עָמַד שָׁם״, וְאֵין ״עֲמִידָה״ אֶלָּא תְּפִלָּה, שֶׁנֶּאֱמַר: ״וַיַּעֲמֹד פִּינְחָס וַיְפַלֵּל״.
A Guemará comenta: Isso foi ensinado num baraita de acordo com a opinião do rabino Iossei, filho do rabino Ḥanina, e foi ensinada num baraita de acordo com a opinião do rabino Iehoshua ben Levi: A Guemará elabora: Foi ensinado num baraita de acordo com a opinião do rabino Iossei, filho do rabino Ḥanina: Avraham instituiu a reza da manhã, como foi dito quando Avraham veio olhar para Sodom, um dia depois de ter rezado em seu favor: "E Avraham se levantou de manhã cedo para o lugar onde esteve diante do HaShem" (Bereshit 19:27), e pelo contexto, bem como pela linguagem utilizada no verso, o verbo וַיַּשְׁכֵּם Va’Ishken – Se levantou não significaria nada além de reza, pois esta linguagem seria usada para descrever a reza de Pin’has após a praga como se afirma: "E Pin’has levantou-se e rezou e a praga acabou" (Tehilim 106:30). A ideia então, era que Avraham teria o costume a levantar e rezar pela manhã.
יִצְחָק תִּקֵּן תְּפִלַּת מִנְחָה, שֶׁנֶּאֱמַר ״וַיֵּצֵא יִצְחָק לָשׂוּחַ בַּשָּׂדֶה לִפְנוֹת עָרֶב״, וְאֵין ״שִׂיחָה״ אֶלָּא תְּפִלָּה, שֶׁנֶּאֱמַר ״תְּפִלָּה לְעָנִי כִי יַעֲטֹף וְלִפְנֵי ה׳ יִשְׁפֹּךְ שִׂיחוֹ״.
Itzhak instituiu a reza da tarde, como se diz: "E Itzhak saiu para לָשׂוּחַ Lassua’h - conversar no campo à noite" (Bereshit 24:63), e a ‘conversa’ não significa outra coisa senão reza, como se diz: "Uma reza do aflito quando ele está desmaiado e derrama sua שִׂיחוֹ – Sihô – conversa/queixa diante do HaShem" (Tehilim 102:1). A ideia seria que Itzhak teria sido o primeiro a rezar quando a noite se aproximava, no momento da reza da tarde.
יַעֲקֹב תִּקֵּן תְּפִלַּת עַרְבִית, שֶׁנֶּאֱמַר: ״וַיִּפְגַּע בַּמָּקוֹם וַיָּלֶן שָׁם״, וְאֵין ״פְּגִיעָה״ אֶלָּא תְּפִלָּה, שֶׁנֶּאֱמַר: ״וְאַתָּה אַל תִּתְפַּלֵּל בְּעַד הָעָם הַזֶּה וְאַל תִּשָּׂא בַעֲדָם רִנָּה וּתְפִלָּה וְאַל תִּפְגַּע בִּי״
Iáacov instituiu a reza vespertina, como se diz: "E וַיִּפְגַּע Va’if’gá - encontrou o lugar e dormiu lá porque o sol se pôs" (Bereshit 28:11). A palavra encontro não significa outra coisa senão reza, como se diz na profecia de Irmiahu: "E você, não reze em favor desta nação e não se levante em seu favor cântico e reza, e não me encontre, porque eu não ouço" (Irmiahu 7:16). A ideia é que Iáacov teria rezado durante a noite, depois que o sol se pôs.
E foi ensinado num baraita de acordo com a opinião do rabino Iehoshua ben Levi que as leis da reza foram baseadas nas leis das ofertas diárias: Por que os rabinos disseram que a reza da manhã poderia ser recitada até o meio-dia? Porque, embora a oferta matinal diária fosse normalmente trazida no início da manhã, ela poderia ser ofertada até o meio-dia. E o rabino Iehudá disse: Minha opinião é que a reza da manhã pode ser recitada até a quarta hora do dia, porque a oferta matinal diária era ofertada até a quarta hora.
E por que os rabinos disseram que a reza da tarde poderia ser recitada até a noite? Porque a oferta diária da tarde era ofertada até à noite. O rabino Iehudá disse que a reza da tarde só poderia ser recitada até o meio da tarde pois, segundo sua opinião, a oferta diária da tarde era ofertada até o meio da tarde.
E por que disseram que a reza da noite não é fixa? Por causa da queima dos membros e gorduras das oferendas que não foram consumidas pelo fogo no altar até a noite. Eles permaneciam no altar e eram oferecidos continuamente durante toda a noite.
E por que os rabinos disseram que a reza adicional pode ser recitada o dia todo? Porque a oferta adicional era trazida durante todo o dia. No entanto, o rabino Iehudá disse que a reza adicional poderia ser recitada até a sétima hora do dia, porque a oferta adicional era ofertada até a sétima hora.
O baraita continua e afirma que havia dois horários para a reza da tarde. Um horário maior, ou seja, mais cedo chamado “min’ḥá guedolá e outro menor, que era mais tarde e era chamado min’ḥá ketaná. A Guemará esclarece a diferença entre eles: O que é min’ḥá guedolá? A partir de sexta hora e meia após o nascer do sol, ou seja, meia hora depois do meio-dia. Era a primeira vez que a oferta vespertina diária poderia ser trazida, como no caso da véspera da Pessa’h que ocorre no Shabat. O que é min’ḥá ketaná? A partir da nona hora e meia, que era o horário padrão em que a oferta diária da tarde era trazida.
Nesse sentido, um dilema foi levantado diante deles: O rabino Iehudá, que era da opinião de que a reza da tarde só poderia ser recitada até o meio da tarde, dizia que o ponto médio da primeira min’ḥá guedolá? Ou ele dizia que o ponto médio era o da última min’ḥá? Venha e ouça uma resolução explícita para este dilema: Como foi ensinado num baraita, o rabino Iehudá disse: Eles disseram o ponto médio da última min’ḥá e que seria a décima primeira hora, menos um quarto de hora, após o nascer do sol, ou seja, uma hora e um quarto de horas, antes do pôr do sol.
Em qualquer caso, é claro que, de acordo com este baraita, as halahot da reza seriam baseadas nas ofertas do Templo. A Guemará sugere: Digamos que esta é uma refutação conclusiva da opinião do rabino Iossei, filho do rabino Ḥanina, que sustentava que os antepassados instituíram as rezas. O rabino Iossei, filho do rabino Ḥanina, poderia ter dito a você: Na verdade, direi a você que os Patriarcas instituíram as rezas e os Sábios se basearam os tempos e as características da reza nas ofertas do Templo, mesmo que elas não provenham da mesma fonte. Como, se você não diz isso, que até mesmo o rabino Iossei, filho do rabino Ḥanina, concordaria que as leis das ofertas e as das rezas estão relacionadas; então, de acordo com o rabino Iossei, filho do rabino Ḥanina, quem instituiu a reza adicional? Não é uma das rezas instituídas pelos antepassados. Em vez disso, mesmo de acordo com o rabino Iossei, filho do rabino Ḥanina, as rezas foram instituídas pelos Patriarcas e os Sábios as basearam nas leis das ofertas.
Aprendemos na mishná que o rabino Iehudá diz: A reza da manhã pode ser recitada até a quarta hora do dia. Um dilema foi proposto diante dos estudantes da Ieshivá: Quando o rabino Iehudá disse “até”, ele quer dizer “até e incluindo a quarta hora”, ou, talvez, quando ele disse "até" ele queria dizer “até e não incluindo”, caso em que não se poderia rezar durante a quarta hora? Venha e ouça uma resolução para este dilema baseada na mishná: O rabino Iehudá disse: A reza da tarde só poderia ser recitada até o meio da tarde. Agora, se você disser que o termo “até” significaria “até e não incluindo”, então há uma diferença entre a opinião do rabino Iehudá e a opinião dos rabinos. No entanto, se você disser que o termo “até” significaria “até e incluindo”, então a opinião do rabino Iehudá seria idêntica à opinião dos rabinos, pois o final do período que começaria com o ponto médio da tarde, que é o pôr do sol.

