Rava disse: Embora tenha sido ensinado num baraita que constitui uma refutação conclusiva de Shmuel, a halakha está de acordo com sua opinião neste assunto. Qual é a razão para isto?...Porque o que oferece mais proteção seria preferível , mesmo ao custo da depreciação. E onde debaixo de sua cabeça ele os colocava? Rabi Irmiá disse: Ele os colocava entre o travesseiro e o colchão, não diretamente alinhados com a cabeça, mas um pouco para o lado. A Guemará pergunta: Mas, o Rabi Ḥiyya não ensinou num baraita que, nesse caso, ele os colocaria numa bolsa usada para Tefilin, diretamente sob sua cabeça? A Guemará responde: Ele agia de uma maneira que a protuberância na bolsa, onde estão os Tefilin, se projetasse para fora e não ficasse abaixo de sua cabeça.
Com base nesta observação, a Guemará relata que Bar Kappara os amarrava em sua cortina de cama e projetava sua protuberância para fora. Rav Sheisha, filho de Rav Idi, os colocava em um banco e estirava um pano sobre eles.
Rav Hamnuna, filho de Rav Iossef, disse: Uma vez eu estava diante de Rava e ele me disse: Vá e me traga meus Tefilin. E os encontrei em sua cama, entre o colchão e o travesseiro, numa posição não alinhada com sua cabeça. E eu sabia que era o dia da imersão de sua esposa no banho ritual para purificação da impureza ritual de uma mulher menstruada, o que significava que ele certamente teve relações conjugais, e tendo agido assim, enviou-me para trazer-lhe seus Tefilin, para nos ensinar a Halahá prática naquele caso.
Rav Iossef, filho de Rav Neḥunya, que propôs um dilema anteriormente, propôs um novo dilema diante de Rav Iehudá: Imagine um cenário, onde dois indivíduos estão dormindo numa única cama, considerando que era prática padrão dormir sem roupa, qual seria a Halahá? Seria permitido que uma dessas pessoas vire a cabeça de lado (desviando da nudez ao lado) e recite o Shemá? Poderia ele agir assim, virando a cabeça e recitando Shemá?; ou isso seria proibido, porque eles estariam despidos (de qualquer forma) e seriam considerados (por isso) inaptos para recitar Shemá, mesmo que estivessem cobertos com um cobertor? Ele lhe disse: Shmuel disse o seguinte: Isso seria permitido! Mesmo que sua esposa estivesse (nua) na cama com ele.
Rav Iossef se opunha fortemente a esta resposta: Você diz que ele (a pessoa da cena imaginada) teria permissão para recitar o Shemá na cama (mesmo) com sua esposa (com ele), seria então desnecessário dizer que ele teria permissão para fazer a mesma coisa, quando estivesse na cama, com qualquer outra pessoa! Pelo contrário, uma vez que (o raciocínio seria que) "sua esposa seria como sua própria carne" (logo, "ela" não era considerada nua para ele) e ele, não (seria considerado como alguém que) teria pensamentos lascivos sobre ela (pois, se trata de sua esposa, e por isso é que) seria permitido; (porém) já com outra pessoa (na cena, tudo muda, porque essa pessoa) não seria como a sua própria carne e portanto, (recitar o Shemá ali) seria proibido.
A Guemará propõe uma objeção a este argumento, a partir da resolução de uma aparente contradição entre dois baraitot: Foi ensinado num baraita: Imagine dois indivíduos que estão dormindo numa cama de solteiro: Este vira a cabeça de lado (evitando a nudez) e recita Shemá, e aquele vira a cabeça de lado (evitando a nudez) e recita Shemá. E foi ensinado em outro baraita: Imagine alguém que estiver dormindo na sua cama e seus filhos e membros de sua família estiverem ao seu lado. Tal pessoa, não pode recitar Shemá, a menos que uma vestimenta se sobreponha entre eles. Se seus filhos e os membros de sua família forem pequenos porém, é permitido recitar Shemá, mesmo sem uma vestimenta separando entre eles.
Considerando o que foi dito de acordo com Rav Iossef, a aparente contradição entre os dois baraitot não seria difícil, pois este (primeiro) baraita, estaria se referindo à um caso em que sua esposa estaria na cama com ele, enquanto este outro (segundo) baraita estaria se referindo ao caso em que outra pessoa estaria na cama com ele, e haveria preocupação (neste segundo caso) para que ele não tivesse pensamentos lascivos. No entanto, de acordo com Shmuel, que permitia que se recitasse o Shemá independentemente de quem estivesse na cama com ele, daí sim, seria realmente difícil. Como ele interpretaria o baraita que proíbe?
A Guemará responde: Shmuel poderia ter dito a você: E se você analisar a cena, de acordo com a opinião de Rav Iossef? Funciona bem? Pois, por acaso não foi ensinado nesse mesmo baraita, que aquele que estiver indo dormir na sua cama e seus filhos e membros de sua casa estiverem ao seu lado, não poderia recitar o Shemá, a menos que uma vestimenta se sobreponha entre eles? Nota-se então, que o Rav Iossef não sustentava que "sua esposa era como sua própria carne", de tal modo que se concluiría que nenhuma separação era necessária. Em vez disso, o que você teria a dizer em resposta? O Rav Iossef sustentava que haveria uma disputa tanaítica no caso imaginado da esposa; Eu também defendo que se trata de uma disputa tanaítica e aceito a decisão de um dos baraitot.
A Guemará reverte o tema, para esclarecer algo mencionado antes: O Mestre disse num baraita: Imagine a cena de dois, numa mesma cama, prestes a recitar o Shemá: Este vira a cabeça de lado (evitando a nudez ao lado) e recita o Shemá... A Guemará percebe uma dificuldade: Nesta cena imaginada não há nádegas nuas? Sim, claro que há! Pois, então, isso corrobora a opinião de Rav Huna, como foi dito: Rav Huna declarou: Nádegas não constituem nudez! Digamos então, que a seguinte Mishná apoiasse a opinião de Rav Huna : Uma mulher senta-se e separa sua ḥalá estando nua, posto que ela deve recitar uma bênção sobre a separação do ḥalá, mesmo assim se diz que ela poderia separar a halá porque ela poderia cobrir seu rosto, (note o eufemismo) no chão; Mas um macho, cujos genitais não são cobertos nem mesmo quando ele se senta, não poderia fazer isso. A Mishná ensina com isso então, que nádegas expostas não constituem nudez.
Rav Naḥman bar Itzhak interpretou a mishná como se estivesse referindo a um caso em que seu rosto (note o eufemismo), estaria completamente coberto no chão, de tal forma que sua parte posterior estaria coberta pelo chão. Portanto, a prova da opinião de Rav Huna não pode ser trazida desta mishná.
O Mestre disse num baraita: Se seus filhos e os membros de sua família forem pequenos, mesmo que estivessem sem roupa, seria permitido recitar o Shemá ali, mesmo sem uma vestimenta separando entre eles. A Guemará pergunta: Até que idade ainda se é considerado pequeno? O Rav Ḥisda disse: Uma menina até os três anos e um dia de idade, e um menino até os nove anos e um dia de idade, pois estas seriam as idades, a partir das quais, um ato sexual entre eles, seria considerado válido num tribunal. Há quem diga: Eles são considerados pequenos nas seguintes condições: A menina de onze anos e um dia de idade, e um menino de doze anos e um dia de idade, pois essa seria a idade em que seriam considerados adultos, a esse respeito. Essa idade era apenas aproximada, pois a idade de maioridade tanto para este, o menino, quanto para aquela, a menina, estaria no início da puberdade, de acordo com o versículo: "Seus seios se formaram e seus cabelos cresceram" (Ieheskel 16:7).
Rav Kahana disse ao Rav Ashi: Lá, com relação à lei dos Tefilin, Rava disse: Apesar de uma refutação conclusiva da opinião de Shmuel, a Halahá está de acordo com a opinião de Shmuel. Aqui, qual é a decisão? Ele lhe disse: Estavam todos tecidos no mesmo ato de tecer? Não haveria distinções entre casos diferentes? Pelo contrário, onde foi declarado, foi declarado! E onde não foi declarado, não foi declarado! E não há comparação entre os casos!
Rav Mari disse ao Rav Pappa: Constitui-se nudez se os pelos pubianos de alguém se projetarem de sua roupa? Rav Pappa disse sobre ele: Um cabelo é só um cabelo. Você está dividindo cabelos e sendo pedante sobre trivialidades.
O Rabi Itzhak disse: Uma mão exposta de uma mulher constituiria nudez. A Guemará pergunta: E sobre qual Halahá isso foi dito? Se você disser que se tratava de proibir olhar para uma mão exposta, o Rav Sheshet não havia dito: Por qual motivo, o versículo enumerou "tornozeleiras e pulseiras, anéis, brincos e cintas" (Bamidbar 31:50), joias que eram usadas externamente, sobre suas roupas, por exemplo, pulseiras, juntamente com joias usadas internamente, por baixo de suas roupas, (proximo à nudez), por exemplo, cintas? Isso foi declarado daquele modo específico, para lhe dizer: Qualquer um que olhar (de modo mal intencionado) para o dedo mínimo de uma mulher (que lhe é proibida) será considerado como se olhasse para seus genitais expostos; pois se suas intenções forem impuras, não fará diferença para onde ele olha, ou o quanto está exposto, menos ainda (faria diferença) se (olhar apenas para) uma amplitude de mão.
Pelo contrário, a declaração estava se referindo, até mesmo à sua esposa, "no que diz respeito à recitação de Shemá". Então, não se poderia recitar Shemá, nem mesmo diante de uma mão exposta da própria esposa?
Nessa linha de raciocínio, o Rav Ḥisda disse: Sendo assim, até mesmo a perna exposta de uma mulher seria considerada nudez, como foi dito: "Descubra a perna, e passe pelos rios" (Ieshaiahu 47:2), e está escrito no seguinte versículo: "A tua nudez será revelada e a tua vergonha será vista" (Ieshaiahu 47:3). Shmuel afirmou ainda: Sendo assim, a voz do canto de uma mulher seria considerada nudez, pois se poderia derivar do texto que menciona o elogio concedido à voz de uma mulher, como foi dito: "Doce é a tua voz e o teu semblante é sedutor" (Shir HaShirim 2:14). Da mesma forma, o Rav Sheshet afirmou: Sendo assim, até mesmo o cabelo de uma mulher seria considerado nudez, pois também foi elogiado, como está escrito: "O teu cabelo é como um bando de cabras, descendo do monte Guilead" (Shir HaShirim 4:1).
A Guemará retoma sua discussão sobre Tefilin. O Rabi Ḥanina disse: Eu vi o Rabi Iehudá HaNasi pendurar seus Tefilin. A Guemará propõe uma objeção: Foi ensinado num baraita que, aquele que pendurar seus Tefilin teria sua vida "pendurada na balança".
Além disso, os Intérpretes Simbólicos da Torá disseram que o versículo: "E a tua vida pairará em dúvida diante de ti [taluim]" (Devarim 28:66), que seria o castigo de quem (Tolêh) "enforca" seus Tefilin.
A Guemará responde: Essa aparente contradição não seria difícil, pois esse baraita, que condena aquele que pendura seus Tefilin, referindo-se àquele que os pendurasse pela alça, de modo que estaria permitindo que as caixas de couro em que o pergaminho foi colocado, fiquem penduradas. E isso era considerado depreciativa, portanto, certamente proibido. Esse outro baraita, que relata que o rabino Iehudá HaNasi pendurava seus Tefilin, e diz que isso era claramente permitido, se referiu a quando alguém os pendurasse na caixa com as alças penduradas junto.
E se preferir, diga dando outra explicação: Não há diferença pendurar os Tefilin da alça e não há diferença pendurar os Tefilin da caixa; ambos seriam proibidos. E quando Rabi Iehudá HaNasi pendurou seus Tefilin, ele os pendurou em sua bolsa, o que é permitido.
A Guemará pergunta: Sendo assim, qual seria o propósito de relatar esse incidente então? A Guemará responde: Para que você não diga que os Tefilin exigiriam colocação em cima de uma superfície, como era costume com um pergaminho de Torá. Por isso, nos foi ensinado por meio desse exemplo, que isso era desnecessário.
Desde que o Rabi Ḥanina relatou uma história envolvendo o Rabi Iehudá HaNasi, a Guemará citou outra história semelhante. O Rabi Ḥanina disse: Eu já vi o Rabi Iehudá HaNasi em vários momentos diferentes: Enquanto ele estava rezando, arrotando, bocejando, espirrando, cuspindo, e se ele era picado por um piolho, era procurava e removia com sua roupa, mas ele não se envolvia com seu Talit, se ele caísse durante a reza. E quando ele bocejava, ele colocava a mão no queixo para que sua boca aberta não ficasse visível.

