Mas nesta passagem em especial do Talmud as vítimas da pandemia em questão, não eram seres humanos. Eles eram porcos.

אֲמַרוּ לֵיהּ לְרַב יְהוּדָה: אִיכָּא מוֹתָנָא בַּחֲזִירֵי. גְּזַר תַּעֲנִיתָא. נֵימָא קָסָבַר רַב יְהוּדָה מַכָּה מְשׁוּלַּחַת מִמִּין אֶחָד מְשׁוּלַּחַת מִכל הַמִּינִין? לָא, שָׁאנֵי חֲזִירֵי — דְּכמְיָין מְעַיְיהוּ לִבְנֵי אִינָשֵׁי
Em outra ocasião, eles disseram ao rav Iehudá: Há peste entre os porcos. O rav Iehudá decretou um jejum. A Guemará pergunta: Digamos que rav Iehudá afirmou que uma praga que afetasse uma espécie chegaria a afetar todas as espécies, e seria por isso que ele tinha decretado um jejum. A Guemará responde: Não! Em outros casos não haveria motivo para preocupação. No entanto, os porcos são considerados diferentes, pois seus intestinos são semelhantes aos dos humanos. E consequentemente, as doenças que afetam porcos podem se espalhar entre as pessoas.
שולחן ערוך אורח חיים 576:2-3
היה דבר במדינה ושיירו' הולכו' ובאו' ממנה למדינה אחר' שתיהן מתענו' אע"פ שהן רחוקו' זו מזו
ואם היה דבר בחזירים מתענין מפני שמעיהם דומים לשל בני אדם וכל שכן אם היה דבר בעכו"ם ולא בישראל שמתענים
(…) Se houver um surto numa área e os que escaparam conseguiram fugir para outra, os dois lugares devem jejuar, mesmo que estejam distantes um do outro. Se houver um surto de doença entre porcos, declaramos jejum porque seus intestinos são semelhantes aos dos humanos e, certamente, se houver um surto entre idólatras que poupou judeus, ainda devemos declarar um jejum.
Os israelitas então, foram obrigados a jejuar em reação a uma epidemia, independentemente de ela ter se espalhado em sua própria comunidade. Eles também deveriam fazer isso, mesmo que a doença permanecesse dentro do reservatório do animal.
Essa exigência era presciente , porque uma cepa de influenza, a cepa A, infecta não apenas humanos, mas várias outras espécies de mamíferos, bem como alguns pássaros.
As cepas de animais podem passar de uma espécie de mamífero para outra, às vezes ganhando virulência ao fazê-lo. Acredita-se que a pandemia de gripe de 1918, que matou pelo menos 50 milhões de pessoas, tenha se originado como um vírus aviário que então passou por um hospedeiro mamífero, provavelmente porcos, antes de infectar humanos.
Em 1975, a gripe suína ameaçou várias localidades no mundo, e nos EUA levou o governo federal a empreender um enorme - e muito controverso - programa de vacinação em massa. O programa foi seguido em outros lugares.
E em 2009 houve outro surto de gripe suína, que se originou no México. A exigência judaica de jejuar em resposta a um surto de gripe suína é, em termos médicos, correta.
A REZA JUDAICA PARA O GADO
Essa sensibilidade às infecções zoonóticas não era apenas teórica; há pelo menos um exemplo de reza composta especificamente por animais durante uma pandemia.
Vamos dar uma olhada numa folha de reza impressa como poesia, intitulada “Uma reza para acabar com um surto de doença entre o gado” quee pode ter sido composta na Itália no final do século XVIII, mas não há mais detalhes sobre suas origens.
Gratidão ao Dr Brown, a Sharon Hurwitz e Ann Brener, por trazerem este notável documento à nossa atenção.
(A referência é do Library of Congress Hebrew Broadside Collection = Biblioteca do Congresso Hebraico Broadside, Cage nº 21 )

Mestre do Mundo! Criador dos céus! Que difundiu nos céus e sobre a terra, concedendo uma néfesh às pessoas que nela habitam e um rú'ah a quem nela anda!
Você criou assim todos os animais, as feras, as criaturas e pássaros que voam. O que é o Adam, para que você se lembre? O que são pessoas que você visite, para que tua divindade tenha piedade delas, que tua honra e glória as coroem? ...
Você fez o Adam como se fosse um mestre sobre sua obra, colocando o mundo a seus pés. Rebanhos aos milhares, criaturas Divinas, as aves celestiais e os peixes dos oceanos, para que os pobres tenham alimento e fiquem saciados. Que todos os que buscarem o Divino falem seus louvores, que seus corações durem para sempre.
Como resultado de nossos pecados, [esses animais] foram feridos e nossos pecados impediram o bem deles. A doença começou a atacar animais e pássaros. Como os animais suspiravam, como os rebanhos se desesperavam, pois a mão do Divino os afligia e espalhava uma praga entre eles ...
Concede cura e recuperação completa a toda carne, pela tua bondade e pela tua misericórdia, como está escrito, HaShem é bom para todos, a sua misericórdia se estende a todas as suas criações. Te imploramos, que a tua misericórdia seja mais forte do que a tua justiça. Veja nossa pobreza e nosso fardo, e aceite nosso arrependimento e nossas rezas com piedade ...
Por favor, HaShem, por favor, cure todas as criaturas com um coração, cure, afaste sua raiva, anule todos os decretos malignos para nós e para todo o Israel com abundante misericórdia, e acabe com a praga que ataca todos os animais e feras nos campos ...
AS IGREJAS ANGLICANA E CATÓLICA TAMBÉM ORAVAM PELO GADO
Por mais incomum que essa rezas possam parecer à primeira vista, não era uma expressão exclusivamente judaica.
Como Alasdair Raffe observou em seu excelente artigo sobre o assunto , na Inglaterra, a Igreja Anglicana acrescentou uma oração pelo alívio da mortalidade do gado em 1748, que foi usada diariamente pelos onze anos seguintes.
E quando a doença bovina voltou durante um surto de cólera em 1865, três novas orações foram compostas para o serviço anglicano.
Ainda assim, essas orações poderiam ser controversas. “Em 1754, um correspondente clerical do London Evening Post reclamou que a oração para o alívio de doenças no gado 'não continha' nada do que ele chamava de "espírito do evangelho" que, era um convite à congregação para' ter uma mente carnal ', embora isso provavelmente dizia mais sobre o estado de espírito do correspondente do que sobre os clérigos que compunham essas orações. Enfim...
Em 1866, Alexander Goss, o bispo católico romano de Liverpool escreveu uma série de orações pelo gado “seja apresentado a você em massa ou em suas baias”.
O teor a oração dele foi:
Rezemos,
ó Deus, nosso refúgio e fortaleza, ouça as piedosas orações de tua igreja, ó autor de piedade, e conceda que obtenhamos rapidamente o que pedimos cheios de confiança. ...
Rezemos para que
estes animais recebam a tua bênção, ó Senhor: que os seus corpos sejam salvos e sejam libertados de todo o mal pela intercessão do bendito António. Por Cristo nosso Senhor. Um homem.
Rezemos
Nós humildemente imploramos por tua misericórdia, ó Senhor, e oramos que tu possas conceder proteção a este gado e (outros) animais de todo engano e poder do diabo, bem como de qualquer doença, através do poder da bênção com seu nome. Sê tu, Senhor, a sua defesa, o seu suporte na vida e o seu remédio na doença, e multiplica a tua misericórdia e bondade, para que o teu santo nome seja glorificado para sempre. Um homem.
[O padre então borrifava água benta. ]
Na lei judaica, devemos rezar por outras pessoas que estão sofrendo com uma pandemia, independentemente de nós também sermos afetados.
Devemos rezar por todo mundo, por israelitas, por não israelitas, por idólatras e sim, até pelos por animais considerados "ritualmente impuros" como os porquinhos.
A ideia é: HaShem (cujo manifesto, é a Neshamá, a Consciência que somos) é bom para todos. Sua misericórdia, se estende por todas as gerações.

