Acusações contra o Talmud - (parte 2) - O Talmud é maior que a Bíblia Hebraica?

Continuando nossa série de elucidações a acusações contra o Talmud,

UMA OUTRA ACUSAÇÃO DIZ:

O Talmud é o livro mais sagrado do Judaísmo. Sua autoridade tem precedência sobre o Antigo Testamento no Judaísmo. Provas disso podem ser encontradas no próprio Talmud, Erubin 21b (edição Soncino): "Meu filho, seja mais cuidadoso na observância das palavras dos escribas do que nas palavras da Torá (Antigo Testamento)."

------------------------------------------------------------------------------------

É realmente interessante que alguém faça essa afirmação sobre o Talmud.

Embora certamente não seja verdade que o Judaísmo vê o Talmud como sendo "mais sagrado" do que a Bíblia Hebraica já havíamos refletido antes: E se fosse verdade? Como isso mostra de alguma forma que o Judaísmo está errado? E se a pessoa não for da nossa religião, então, porque ela se importa?

No entanto, como acontece com a maioria dessas afirmações, esta é outra MENTIRA.

O Judaísmo do Talmud considera a Bíblia Hebraica, seu livro mais sagrado e as leis bíblicas é que foram consideradas as mais importantes.

O Judaísmo do Talmud vê a Torá (os cinco Livros de Moshe) como o artefato mais sagrado que existe. As vertentes mais fanáticas da nossa religião, ainda a considera "palavra literal" da Divindade por causa disso.

Mesmo nas vertentes menos ou, não fanáticas da religião judaica, a Torá é o livro mais importante. E para quem ainda não entendeu: Torá são os 5 primeiros livros da Bíblia Hebraica!

Os livros da coleção "Profetas" (Iehoshua, Shmuel, Melahim, Ieshaiahu, Irmiahu, Ieheskel e os Doze profetas) são textos considerados inspirados pelo divino, por meio da vocação dos profetas. Estes textos serviriam como fontes de instrução para o povo. E a terceira coleção de textos, chamada simplesmente de "Escritos" (Tehilim, Mishlei, Iov, Shir HaShirim, Rut, Ehá, Kohelet, Ester, Daniel, Ezrah e Nehemiah e Divrei HaImamim) são considerados textos que foram inspirados pelos ensinos dos profetas, inscritos por sábios.

A Bíblia Hebraica é o livro mais sagrado para o Judaísmo e é tratada com respeito especial.

O que se segue foi retirado do código da lei judaica resumido, chamado Kitzur Shul'han Aru'h (resumo da mesa posta) nas "leis relativas ao tratamento de um pergaminho da Torá":

חַיָּב אָדָם לִנְהֹג כָּבוֹד גָּדוֹל בְּסֵפֶר תּוֹרָה. וּמִצְוָה לְיַחֵד לוֹ מָקוֹם, וּלְכַבֵּד אֵת הַמָּקוֹם הַהוּא וּלְהַדְּרוֹ בְּיוֹתֵר. וְלֹא יָרֹק כְּנֶגֶד סֵּפֶר תּוֹרָה, וְלֹא יֶאֱחֹז סֵפֶר תּוֹרָה בְּלֹא מִטְפַּחַת. הָרוֹאֶה אֵת הַנּוֹשֵׂא סֵפֶר תּוֹרָה, צָרִיךְ לַעֲמֹד לְפָנָיו, עַד שֶׁיַּכְנִיס אֵת סֵּפֶר הַתּוֹרָה לִמְקוֹמוֹ, אוֹ עַד שֶׁאֵינוֹ רוֹאֵהוּ עוֹד. וּבְבֵית הַכְּנֶסֶת בְּשָׁעָה שֶׁמּוֹצִיאִין וּמַכְנִיסִין אֵת הַסֵּפֶר תּוֹרָה, מִצְוָה לְכָל מִי שֶׁעוֹבֶרֶת לְפָנָיו, לְלַוּוֹתָהּ עַד מְקוֹמָהּ, וְכֵן הַמַּגְבִּיהַּ וְהַגּוֹלֵל, יֵלְכוּ לְלַוֹּוֹתָהּ (יו"ד רפב אוֹרַח חַיִּים קמט).

(3) A pessoa deve ter grande respeito por um Sefer Torá . É seu dever designar um lugar especial para ele e tratá-lo com honra e mantê-lo com a maior reverência. Ele não deve [sequer] cuspir na frente do Sefer Torá , e ele não deve segurar um Seifer Torá sem sua capa [ou manto de proteção, evitando contato direto]. Quando você vê um Sefer Torá sendo carregado, você deve se levantar [e permanecer em pé] até que o Sefer Torá seja trazido ao seu lugar, ou até que esteja fora de [sua] vista. Na sinagoga, quando o Sefer Torá é retirado ou levado [para a Arca], é uma mitsvá para todos aqueles por quem passa a acompanhá-lo ao seu destino. Também a pessoa que ergueu [o Sefer Torá], e quem o enrolou deve acompanhá-lo.

Toda esta cerimônia se refere aos 5 primeiros livros da Bíblia Hebraica. Conhece algum outro povo, que trata livros da Bíblia Hebraica com tanta reverência? Só estes livros da Bíblia Hebraica recebem tamanho cuidado.

Da mesma forma, tratamos a Bíblia Hebraica com tanto respeito, que absolutamente nenhum livro pode ser colocado nem mesmo em cima da Bíblia Hebraica!

Sim, mesmo um livro dos Profetas ou das Escrituras, não pode ser colocado em cima de uma Torá

[Talmud, tratado de Meguilah 27a].

De uma perspectiva da halahá - a lei judaica normativa - as leis bíblicas são mais importantes do que as leis rabínicas:

וְהָא קָא מְבַטֵּל כְּלִי מֵהֵיכֵנוֹ! סָבַר מְבַטֵּל כְּלִי מֵהֵיכֵנוֹ דְּרַבָּנַן, צַעַר בַּעֲלֵי חַיִּים דְּאוֹרָיְיתָא, וְאָתֵי דְּאוֹרָיְיתָא וְדָחֵי דְּרַבָּנַן.

A Guemará pergunta: Ele, ao colocar as almofadas e cobertores, não nega a preparação de um navio? Ou seja, as almofadas e cobertores não são mais adequados para seu uso designado no Shabat, e essa negação de seu uso designado seria semelhante ao trabalho proibido de desmontagem. A Guemará responde: O Rav afirmou que negar a preparação de um navio seria proibido pela lei rabínica. Fazer sofrer uma criatura viva porém, é uma proibição da Torá . E um assunto proibido pela lei da Torá vem e substitui um assunto proibido pela lei rabínica.

Vemos o mesmo no Talmud Pessahim 9b que somos "mais rígidos" com as leis bíblicas do que com as leis rabínicas.

No Talmud tratado de Pessahim 4b, Eruvin 30 e Ketuvot 28b, o testemunho "de crianças" era considerado como aceitável apenas para as leis rabínicas, mas não de acordo com as leis bíblicas, porque tinha requisitos mais rígidos.

No Talmud tratado de Berahot 21a, vemos que quando em dúvida, de se um mandamento bíblico foi cumprido, se deve repetir o rito, mas quando em dúvida se um mandamento rabínico foi ou não cumprido, não precisar deste procedimento.

Uma ideia semelhante foi repetida no Talmud tratado de Avodah Zarah 7a - quando há duas opiniões sobre um mandamento bíblico, seguimos a opinião mais rígida para se evitar erros, mas quando há duas opiniões sobre um mandamento rabínico, seguimos a opinião mais tolerante.

Não apenas a Bíblia Hebraica que era importante para os israelitas, mas o Talmud nos diz que somos obrigados a estudá-la:

הוּא הָיָה אוֹמֵר, בֶּן חָמֵשׁ שָׁנִים לַמִּקְרָא, בֶּן עֶשֶׂר לַמִּשְׁנָה, בֶּן שְׁלשׁ עֶשְׂרֵה לַמִּצְוֹת, בֶּן חֲמֵשׁ עֶשְׂרֵה לַתַּלְמוּד, בֶּן שְׁמֹנֶה עֶשְׂרֵה לַחֻפָּה, בֶּן עֶשְׂרִים לִרְדֹּף, בֶּן שְׁלשִׁים לַכֹּחַ, בֶּן אַרְבָּעִים לַבִּינָה, בֶּן חֲמִשִּׁים לָעֵצָה, בֶּן שִׁשִּׁים לַזִּקְנָה, בֶּן שִׁבְעִים לַשֵּׂיבָה, בֶּן שְׁמֹנִים לַגְּבוּרָה, בֶּן תִּשְׁעִים לָשׁוּחַ, בֶּן מֵאָה כְּאִלּוּ מֵת וְעָבַר וּבָטֵל מִן הָעוֹלָם:

(21) Ele costumava dizer: Aos cinco anos de idade: Estudo das Escrituras. Aos dez: O estudo da Mishná. Aos treze: Se torna sujeito aos mandamentos. Aos quinze anos: O estudo do Talmud. Aos dezoito anos: Ir para o dossel nupcial. Aos vinte: Para busca [de sustento]. Aos trinta: Se alcança o pico de força. Aos quarenta anos: Se alcança a sabedoria. Aos cinquenta anos: Se torna capaz de dar conselhos. Aos sessenta anos: chega a velhice. Aos setenta anos: Se alcança a completude dos anos. Aos oitenta anos: “Força”. Aos noventa anos: É como um corpo curvado. Aos cem anos: Praticamente morto e completamente fora do mundo.

No entanto, mesmo dizendo que o estudo da Bíblia Hebraica deveria começar aos cinco anos de idade, se diz ainda que isso deveria continuar a ser uma parte importante de nossa rotina de estudo diária:

לְעוֹלָם יְשַׁלֵּשׁ אָדָם שְׁנוֹתָיו שְׁלִישׁ בַּמִּקְרָא שְׁלִישׁ בַּמִּשְׁנָה שְׁלִישׁ בַּתַּלְמוּד מִי יוֹדֵעַ כַּמָּה חָיֵי לָא צְרִיכָא לְיוֹמֵי לְפִיכָךְ נִקְרְאוּ רִאשׁוֹנִים סוֹפְרִים שֶׁהָיוּ סוֹפְרִים כׇּל הָאוֹתִיּוֹת שֶׁבַּתּוֹרָה שֶׁהָיוּ אוֹמְרִים וָאו דְּגָחוֹן חֶצְיָין שֶׁל אוֹתִיּוֹת שֶׁל סֵפֶר תּוֹרָה דָּרֹשׁ דָּרַשׁ חֶצְיָין שֶׁל תֵּיבוֹת וְהִתְגַּלָּח שֶׁל פְּסוּקִים יְכַרְסְמֶנָּה חֲזִיר מִיָּעַר עַיִן דְּיַעַר חֶצְיָין שֶׁל תְּהִלִּים וְהוּא רַחוּם יְכַפֵּר עָוֹן חֶצְיוֹ דִּפְסוּקִים

À luz dessa declaração, os Sábios disseram que uma pessoa sempre deve dividir seus anos em três partes, como segue: uma terceira para a Bíblia Hebraica, uma terceira para Mishná e uma terceira para o Talmud. A Guemará pergunta: Como uma pessoa poderia dividir sua vida dessa maneira? Quem é que sabe a duração de sua vida? Para poder calcular quanto tempo vai durar exatamente. A Guemará responde: Não! Isso é necessário para os dias, ou seja, que se deve dividir cada dia de sua vida, dessa maneira. Portanto, por se dedicarem tanto tempo à Bíblia Hebraica, os primeiros Sábios foram chamados de: Aqueles que contam [סוֹפְרִים soferim], porque eles contavam todas as letras da Torá, pois diziam que a letra vav na palavra “estômago [גָחוֹן gaḥon]” (Vaicrá 11 : 42) éra o ponto médio das letras num pergaminho da Torá. As palavras: procurou saber, cuidadosamente" [דָּרֹשׁ דָּרַשׁ darosh darash]” (Vaicrá 10 : 16), são o ponto médio das palavras num pergaminho da Torá. E o verso que começa com: a pessoa será raspada (Vaicrá 13 : 33), é o ponto médio dos versos. Da mesma forma, na expressão: "O javalis da floresta [מִיָּעַר mia'ar] a derrubam" (Tehilim 80 : 14), o ע áin na palavra madeira [יער iá'ar] é o ponto médio dos Tehilim, no que diz respeito ao seu número de letras. O verso:Mas ele, sendo cheio de bondade, perdoa a iniquidade (Tehilim 78 : 38), é o ponto médio dos versos no livro de Tehilim.

Como se vê, na verdade, o Talmud no tratado de Berahot 8b nos diz, que se deve revisar uma porção da Torá a cada semana duas vezes e novamente na tradução aramaica, e seguindo este procedimento, terminar a leitura da Torá a cada ano.

Não há a menor dúvida de que a Bíblia Hebraica - que não é um "testamento" (de alguém que morreu) mas é a Torá Escrita ou seja, a Instrução que está escrita - é sim, uma peça central do Judaísmo em qualquer vertente. E embora o Talmud contenha discussões sobre a Torá Oral - a Instrução oralmente transmitida - a Bíblia Hebraica sempre tem precedência.

We use cookies to give you the best experience possible on our site. Click OK to continue using Sefaria. Learn More.OKאנחנו משתמשים ב"עוגיות" כדי לתת למשתמשים את חוויית השימוש הטובה ביותר.קראו עוד בנושאלחצו כאן לאישור