...e os rabinos, que não exigem a menção de um verso adicional, para então concluírem que o Ano do Iovél, não se estenderia até Iom Kipur do quinquagésimo primeiro ano; derive então, esta halahá do verso: e consagrem o quinquagésimo ano; apenas como o Ano do Iovél, mas você não conta o quinquagésimo ano como o Ano do Iovél e também como o primeiro ano do próximo ciclo de Shemitá. Esta halahá teria o propósito de excluir a opinião do rabino Iehudá, que disse que o quinquagésimo ano seria contado para cá e para lá, ou seja, tanto como o Ano do Iovél como também como o primeiro ano do próximo ciclo de Shemitá. Para que ninguém pensasse que seria isso mesmo, o verso nos ensinaria que não é assim; em vez disso, o quinquagésimo ano seria o Ano do Iovél, e o ano seguinte é que seria o primeiro ano do próximo ciclo de Shemitá.
§ A propósito da discussão sobre a extensão do Ano de Iovél, a Guemará pergunta: De onde derivamos o princípio de que se estende um período de tempo consagrado, adicionando do comum ao sagrado em ambas as extremidades?
Como é ensinado num baraita: O verso afirma: “Trabalhe durante seis dias, mas no sétimo dia você deve descansar - descanse, mesmo no tempo de arar e na época da colheita” (Shemot 34 : 21). O rabino Akiva disse: É desnecessário afirmar isso sobre arar e colher durante o Ano de Shemitá, posto que já tinha sido declarado: “No sétimo ano, porém, haverá um descanso de Shabat absoluto na terra, um Shabat para HaShem; não semeiem o campo nem podem as vinhas.” (Vaicrá 25 : 4). Em vez disso, o verso, "descanse, mesmo no tempo de arar e na época da colheita", está se referindo à aração no ano anterior ao Ano de Shemitá, entrando no Ano de Shemitá, ou seja, quando se está arando no sexto ano, algo que beneficiaria as safras que crescem no Ano de Shemitá , e sobre a colheita do ano de Shemitá, seguindo para o ano seguinte ao ano de Shemitá, quer dizer, a colheita de grãos que cresceram no ano de Shemitá, no oitavo ano. Isso ensinaria que há um requisito para adicionar tempo extra à consagração do Ano de Shemitá, e não trabalhar a terra antes e depois.
O baraita continua: O rabino Ishmael disse, que o verso: “descanse, mesmo no tempo de arar e na época da colheita”, não estava se referindo à proibição de cultivar a terra antes e depois do Ano de Shemitá, como o rabino Akiva explicava. Ele explicou que a razão pela qual o verso menciona essas duas formas particulares de trabalho, era para ensinar que, assim como o tipo de aração que era proibida durante o Ano de Shemitá, era um ato voluntário, já que arar nunca foi exigido pela Torá; do mesmo modo, a colheita que era proibida durante aquele ano era apenas a colheita voluntária. Isso excluiría a colheita da medida do Omer do produto proibido no ano de Shemitá, pois o Omer consiste de uma Mitzvá. A medida de cevada (o Omer de cevada) deveria ser colhida no dia dezesseis de Nissan. Conseqüentemente, seria permitido colher o Omer mesmo durante o ano de Shemitá.
A Guemará pergunta: Sendo assim, de onde o rabino Ishmael derivou esse princípio de que, se estende um período de tempo sagrado adicionando, do comum ao sagrado, antes e depois?
A Guemará responde: Ele derivou do que foi ensinado num baraita: O verso afirma, em referência a Iom Kipur: “e afligireis à vossa Néfesh, no nono dia do mês, à tarde” (Vaicrá 23 : 32). Alguém poderia ter pensado que seria necessário começar a jejuar o dia inteiro, no nono dia do mês. Portanto, o verso afirma: “à tarde”. Mas se for assim mesmo, considerando que o Iom Kipur começa à tarde, se poderia pensar também que só seria necessário começar a jejuar quando já estivesse escuro, no crepúsculo, quando começa o décimo dia do mês. Portanto, o verso afirma: “no nono.” Como assim; como isso pode ser feito? Se começa a jejuar no nono dia do mês à tarde mas, enquanto ainda é dia. Isso ensina que se estende um período de tempo sagrado adicionando no início do comum ao sagrado.
Daqui posso deduzir apenas que esta adição seria feita no início do Iom Kipur. Mas de onde deduziria que uma adição semelhante seria feita no final do Iom Kipur? O verso afirma: “descansem no seu Shabat, até a tarde seguinte” (Vaicrá 23 : 32), o que ensina que, assim como o Iom Kipur é estendido no início, ele também é estendido no final.
A partir daqui, posso deduzir apenas que uma extensão seria adicionada ao Iom Kipur. De onde seria derivado que, também se deve estender o Shabat? O verso afirma: “Você deve descansar [tishbetu],” que se refere ao Iom Kipur, mas faz alusão ao Shabat. E de onde sei que, o mesmo conceito se aplica aos festivais? O verso afirma: “Seu Shabat [shabat'hem],” cujo sentido é, seu dia de descanso. Como assim? Onde quer que haja uma Mitzvá de descanso, seja Shabat ou um Festival, acrescenta-se do comum ao sagrado, estendendo o tempo sagrado em ambas as extremidades.
A Guemará pergunta: E o rabino Akiva, que ensina que aprendemos o conceito de que se acrescenta do comum ao sagrado, a partir do verso que trata do Ano de Shemitá; como ele lida com este verso, que diz: “E afligireis a nossa néfesh, no nono dia do mês à tarde"?
A Guemará responde: Ele requer isso para o que foi ensinado pelo rabino Ḥía bar Rav de Difti, tal qual o rabino Ḥía bar Rav de Difti ensinou no seguinte baraita: O verso afirma: “e afligireis a vossa néfesh no nono dia do mês.” O jejum é no dia nove? Mas, por acaso o jejum não seria no Iom Kipur, que portanto é no dia 10 de Tishrei? Em vez disso, este verso ensinaria que: Quem comer e beber no dia nove, se preparando portanto para o jejum do dia seguinte, recebe do verso atribuição de mérito...
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...como se tivesse jejuado, no dia nono e no décimo.
§ A Guemará continua com o tema do Ano de Iovél. Os sábios ensinaram num baraita: O verso declara: “e consagrem o quinquagésimo ano, anunciando a liberdade por toda a terra a todos os seus habitantes. Será o Iovél para vocês; cada um volte para a terra de sua propriedade, à sua família.” (Vaicrá 25 : 10). A frase “será o Iovél” ensina que, embora não tenham liberado propriedades para seus proprietários originais, e embora não tenham tocado o Shofar, o período é, no entanto, considerado ano de Iovél, significando que, as halahot do ano de Iovél já se aplicam. Se poderia pensar que, embora não tenham libertado os escravizados, mesmo assim, seria considerado um ano de Iovél. Portanto, o verso afirma: “será”, sendo este um termo de limitação. O termo ensinaria que pelo menos uma das halahot essenciais do ano deve ser observada imediatamente - como a libertação de escravizados - e se não for, não se estará tratando o ano, como ano de Iovél. Esta foi a declaração do rabino Iehudá.
O rabino Iossei disse, a respeito do verso: “Será o Iovél para vocês”; embora eles ainda não tenham liberado as propriedades para seus donos originais, e embora ainda não tenham libertado os escravizados, mesmo assim, o ano é considerado, um Ano de Iovél. E alguém poderia ter pensado que, embora eles não tenham tocado o Shofar, mesmo assim, o ano já seria considerado Ano de Iovél. Portanto, o verso afirma: “será.” Implicando que, algum ato relacionado ao Iovél, deveria ser realizado. Neste caso, o toque do Shofar, caso contrário, não seria considerado, um ano de Iovél.
O rabino Iossei explica sua posição: Visto que um verso inclui situações em que o Iovél estaria em vigor, e outro verso exclui tais situações, por que digo que é considerado um Ano de Iovél embora eles não tenham ainda libertado os escravizados, mas só seria um Ano do Iovél se eles tocassem o Shofar? Digo isso, porque é possível que não houvesse envio de escravizados, pois talvez ninguém tivesse escravizados para libertar, mas seria impossível que não houvesse o toque do Shofar, pois um shofar sempre pode ser encontrado. Portanto na minha leitura, deve ser o toque do Shofar o critério indispensável para o ano de Iovél.
Olhando para a questão, de modo alternativo: Isto, de se tocar o Shofar, seria obrigação do tribunal, que seria obrigado a realizar o toque. Mas aquilo, de que se deve libertar os escravizados, não seria obrigação do tribunal, mas de cada proprietário individual de escravizados. Então, seria lógico que o critério indispensável fosse aquele que estivesse nas mãos do tribunal, e não nas mãos de indivíduos.
A Guemará pergunta: Qual é a necessidade do rabino Iossei acrescentar: Olhando para a questão, de modo alternativo? Sua primeira explicação era insuficiente?
A Guemará responde: Foi necessário, posto que, se você dissesse que seria impossível que não existisse no período, pelo menos um dono de escravizados - ainda que fosse - 'no fim do mundo' e; portanto, seria inconcebível que houvesse um período em que, não existissem escravizados para que fossem libertados, você poderia, não obstante dizer que isso, de se tocar o Shofar, seria responsabildade do tribunal, mas que, a libertação de escravizados, não seria responsabilidade do tribunal.
A Guemará pergunta: Considerando que, isso está claro de acordo com o rabino Iossei, conforme ele elucidou seu raciocínio. Mas, de acordo com rabino Iehudá, por que o critério indispensável para o ano do Iovél seria a libertação de escravizados?
A Guemará explica: O verso declara: “anunciando a liberdade [דרור ] por toda a terra a todos os seus habitantes”, e imediatamente depois diz: “será o Iovél para vocês”. E o rabino Iehudá sustenta, o posicionamento de que, um verso pode ser exposto em referência à cláusula imediatamente anterior, mas não em referência à cláusula anterior. Portanto, a exclusão implícita nas palavras "será" estaria se referindo ao que foi afirmado na cláusula imediatamente anterior: "anunciando a libertade por toda a terra a todos os seus habitantes", ou seja, a emancipação dos escravizados. O texto, não estaria se referindo ao que foi declarado na cláusula anterior: "no Iom Kipur, soem o toque do Shofar, soem o Shofar em toda a sua terra;"
A Guemará pergunta: Parece claro para todos que, o termo דרור “deror” é uma palavra que significa liberdade. Mas, de onde isso pode ser inferido?
A Guemará responde: Como foi ensinado num baraita: O termo דרור 'deror' é um termo que significa somente liberdade.
O rabino Iehudá disse: Qual é o sentido do termo דרור 'deror'? É como um homem que mora [מדיירא] em qualquer residência [דיירא] e movimenta mercadorias por todo o país, ou seja, que pode viver e fazer negócios onde quiser.
O rabino Ḥía bar Ába disse em nome do rabino Ioḥanan: Esta foi a declaração do rabino Iehudá e do rabino Iossei, mas os rabinos disseram: Os três são indispensáveis para o Ano do Iovél: Liberar propriedades, tocar o Shofar e libertar os escravizados . Eles sustentavam que um verso pode ser interpretado em referência à cláusula imediatamente anterior, em referência à cláusula anterior, e também poderia ser interpretado em referência à cláusula seguinte, visto que todas essas halahot foram mencionadas nesta seção, e a exclusão implícita no termo “será” se aplicaria a todas elas.
A Guemará pergunta: Mas não está escrito “Ano do Iovél”, que é um termo de inclusão que deveria se opor à função excludente das palavras: “Será”?
A Guemará responde: Esse termo “Ano do Iovél” tem o propósito de ensinar que a mitzvá do Iovél se aplica, mesmo fora da terra de Israel.
O Guemará questiona esta resposta: Mas, por acaso não está escrito: “Por toda a terra”, o que implicaria, que a regra se aplica apenas na terra de Israel?
A Guemará responde: Aquele termo, "por toda a terra", tem o propósito de ensinar que quando a liberação se aplicava na terra de Israel, se aplicava fora da terra de Israel também, e quando a liberação não se aplicava na terra de Israel, não se aplicava fora da terra de Israel também.
§ A Mishná ensina: E o primeiro dia de Tishrei é o Ano Novo para o plantio. Se determina os anos da Orlá, ou seja, o período de três anos a partir do momento em que uma árvore foi plantada, durante os quais seu fruto é proibido.
A Guemará pergunta: De onde derivamos isso? Do que está escrito: “deverão considerar seus frutos como algo proibido, [ערלים] por três anos; eles serão proibidos, não comam.” (Vaicrá 19 : 23), e está escrito no verso seguinte: “No quarto ano, todo o seu fruto será consagrado para se celebrar ao HaShem” (Vaicrá 19 : 24). E é derivado por meio de uma analogia verbal, entre uma ocorrência do termo "ano" e outra ocorrência do termo "ano" que indica, para este propósito que, o ano começaria em Tishrei, como está escrito em relação a Tishrei: "do começo ao fim do ano” (Devarim 11 : 12).
A Guemará pergunta: Mas, se for assim derivemos por meio de uma analogia verbal distinta, entre uma ocorrência do termo “ano” e outra ocorrência do termo “ano” que, para este propósito, se refere ao princípio do ano como Nissan, como está escrito em relação a Nissan: “este mês será para vocês, o princípio dos meses...” (Shemot 12 : 2).
A Guemará responde: Os Sábios derivaram o sentido do termo "ano" como aparece no verso sobre a Orlá, onde os meses não são mencionados com ele, do termo "ano" como aparece no verso em Devarim citado, onde meses também não foram mencionados com ele. E eles não derivavam o sentido do termo "ano" onde os meses não foram mencionados com ele, do termo "ano" como aparece no verso, onde os meses foram mencionados com ele; ou seja, na frase, "este mês será para vocês, o princípio dos meses...”
Os Sábios ensinaram num baraita: Se alguém planta uma árvore, ou coloca um broto de videira no solo para que possa criar raízes, ou enxerta um galho em uma árvore na véspera do Ano de Shemitá, trinta dias antes de Rosh HaShanah, logo quando Rosh HaShanah chega, um ano é contado para ele. Os trinta dias contam como um ano completo, no que diz respeito à proibição de Orlá, sendo permitida a preservação da planta durante o Ano de Shemitá, pois não é considerado novo crescimento. No entanto, se alguém realizou essas ações a menos de trinta dias antes de Rosh HaShanah, então quando Rosh HaShanah chegasse, um ano não seria contado para ele em relação a Orlá, e seria proibido preservar o novo crescimento durante o Ano de Shemitá.
