A Guemará continua a questionar: Mas o Ano Novo para o Iovél depende de uma certa ação, ou seja, tocar o shofar e, apesar disso, o Taná conta, isto é considera.
A Guemará responde: A Mishná está de acordo com a opinião do rabino Ishmael, filho do rabino Ioḥanan ben Beroka, que disse que o Ano do Iovél começaria em Rosh HaShanah, mesmo sem o toque do shofar.
A Guemará apresenta uma forma alternativa de responder, sobre o motivo de o Taná não incluir todos os outros anos novos:
O Rav Ashi disse: O Taná disse que há quatro anos novos, que caem em quatro luas novas. No entanto, também existem outros anos novos que não caem na lua nova!
A Guemará levanta uma questão: O Rav Ashi conta o primeiro de Shevat como um do Ano Novo? Mas, o primeiro de Shevat é um Ano Novo apenas de acordo com Beit Shamai, e na época de Rav Ashi, a halahá era conhecida por estar de acordo com a opinião de Beit Hillel. Então, como ele considerou?
A Guemará responde que era isto, o que o Rav Ashi estava dizendo: Há três anos novos que todos concordavam que ocorriam no primeiro dia do mês, e o primeiro de Shevat era o tema de uma disputa entre Beit Shamai e Beit Hilel.
A Mishná ensina que o rabino Elazar e o rabino Shimon disseram: O Ano Novo para os dízimos dos animais é no primeiro dia de Tishrei. O rabino Ioḥanan disse: E ambos, o rabino Meir e o rabino Elazar, expuseram o mesmo verso de maneiras diferentes. Como se afirma no verso: “Os campos estão cobertos de rebanhos e os vales, repletos de trigo, por isso exultam e cantam de alegria” (Tehilim 65 : 14). O rabino Meir mantinha que, a frase: Os campos cobertos de rebanhos, implicava, quando os carneiros fecundavam as ovelhas e, assim, as vestiam? Aquele era o momento em que os vales ficavam cobertos de trigo, ou seja, quando ficavam repletos de grãos. E quando os vales ficavam cobertos de grãos? Era em Adar. Portanto, as ovelhas concebiam em Adar e davam à luz cinco meses depois em Av, e por isso era adequado que, seu ano novo fosse no primeiro dia de Elul, já que a maioria dos cordeiros do ano já tinham nascido até então.
O rabino Elazar e o rabino Shimon disseram: Quando os campos estavam cobertos de rebanho? Na hora em que os talos dos grãos “exultam e cantam de alegria”. E quando é, que os caules começavam a cantar, implicando que isso ocorria, quando estavam cheios, de modo que farfalham ao vento e criavam os sons sussurrantes, referidos pelo termo 'canção'? Era em Nissan. Portanto, as ovelhas concebiam em Nissan e davam à luz em Elul, e por isso era apropriado que seu Ano Novo fosse no primeiro dia de Tishrei.
A Guemará pergunta: E de acordo com o outro Taná, o rabino Meir no caso, também não estava escrito: “por isso exultam e cantam de alegria”? Por qual motivo ele interpretou diferente então?
A Guemará responde: Isso para ele, se referia às ovelhas tardias, que eram concebidas após o tempo usual, em Nissan. A Guemará pergunta: De acordo com a outra opinião do rabino Elazar e também do rabino Shimon, não estava escrito: “e os vales repletos de trigo”, o que seria em Adar?
A Guemará responde: Isso para esses sábios, se referia às primeiras ovelhas, que foram concebidas em Adar.
A Guemará continua questionando:
Considerando que, de acordo com a opinião do rabino Meir, o verso poderia ser entendido, conforme está escrito: "os campos estão cobertos de rebanhos" implicando que isso seria assim, no momento em que “os vales, repletos de trigo”.
Mas também há alguns animais que só concebiam no período implícito da frase, "exultam e cantam de alegria". Só que, de acordo com a opinião do rabino Elazar e do rabino Shimon, deveria ter sido escrito na ordem inversa: A frase, "os campos estão cobertos de rebanhos" indicariam a hora em que "exultam e cantam de alegria"; mas também haveria alguns que, conceberiam antes; no período indicado a frase, "os vales estão cobertos de trigo". Nesse caso, de acordo com eles, as palavras no verso não foram escritas na ordem correta!
Em vez disso, Rava disse que a disputa deve ser explicada da seguinte forma: Todos mantinham a opinião de que a frase, "os campos estão cobertos de rebanhos", significa quando as ovelhas concebem, principalmente no momento em que "os vales" estavam "repletos de trigo", o que ocorria no mês de Adar. Mas aqui eles discordam sobre o sentido do seguinte verso: “22 Todo o ano, tomem um décimo de todos os produtos crescidos no campo, 23 e o comam na presença do HaShem, seu Elohim. No lugar que escolher para fazer seu nome residir, comam a décima parte dos grãos, do vinho novo e do zeite de oliva, o primogênito do gado e do rebanho, para aprenderem a temer ao HaShem, seu Elohim, sempre.” (Devarim 14 : 22, 23). Aqui, o verso fala sobre dois dízimos, sendo um o dízimo dos animais e o outro o dízimo dos grãos.
Eles discordavam sobre o seguinte: O rabino Meir afirmava que o verso justapõe a menção do dízimo dos animais ao do dízimo dos grãos. Assim, tal como o dízimo do grão era reservado perto da conclusão do período dos grãos, depois do período de secagem no campo, também o dízimo dos animais deveria ser reservado perto de sua conclusão, depois que os animais tivessem nascido. Tal como o período dos grãos se completava em Elul e era separado no mês seguinte, que seria Tishrei, também os animais nasciam em Av e, portanto, deveriam ser separados no mês seguinte, que seria Elul. Por outro lado, o rabino Elazar e o rabino Shimon afirmavam: O verso justapõe o dízimo dos animais ao dízimo dos grãos. Assim como no caso do dízimo de grãos, seu Ano Novo seria em Tishrei, assim também, no caso do dízimo de animais, seu Ano Novo seria em Tishrei.
§ É ensinado na Mishná: No primeiro dia de Tishrei é o Ano Novo para contar os anos.
A Guemará pergunta: Com relação a qual halahá isso foi declarado?
O Rav Pápa disse: Foi declarado para determinar a validade dos documentos, como aprendemos em uma outra Mishná: Notas promissórias anteriores, que trazem uma data anterior à data em que o empréstimo realmente ocorreu, são inválidas. Mas as notas promissórias pré-datadas, que levam uma data posterior à data em que o empréstimo realmente ocorreu, são válidas. Portanto, é essencial saber a data de início do novo ano para determinar se uma específica nota promissória seria válida ou não.
A Guemará questiona: Mas já não aprendemos na Mishná: No primeiro dia de Nissan é o Ano Novo para os reis; e dissemos sobre isso: Para qual halahá isso foi declarado? E o Rav Ḥisda disse: Foi declarado para determinar a validade dos documentos. Portanto, o novo ano 'para documentos' começaria em Nissan e não em Tishrei!
A Guemará responde: Isso não é difícil; aqui, onde se diz que o documento é datado de acordo com o reinado de reis judeus, o ano começa em Nissan; e lá, onde o documento é datado do reinado dos reis das outras nações, o ano começa em Tishrei.
A Guemará questiona: Mas, o que o Rav Ḥisda disse, na explicação da Mishná, de que eles ensinaram que, o Ano Novo para os reis era em Nissan, apenas no que dizia respeito a reis judeus, mas quanto aos reis das nações do mundo que contaríamos de Tishrei, o Rav Ḥisda veio para nos ensinar algo que tinha sido ensinado na própria Mishná?
A Guemará responde: Não, o Rav Ḥisda veio para nos ensinar o sentido de certos versos, ou seja, dizer que não devem ser entendidos como foi sugerido no início deste capítulo, mas tal qual ensinado ao falar que o Ano Novo para os reis de nações, é em Tishrei.
E se você preferir, diga que o Rav Ḥisda ensina a Mishná como o rabino Zeira ensinava, afirmando que quando se diz que o primeiro de Tishrei é o Ano Novo para anos, não está se referindo a documentos, como rabino Zeira disse: O primeiro de Tishrei seria o ano novo durante anos no que diz respeito ao cálculo dos ciclos do sol e da lua. E isso está de acordo com a opinião do rabino Eliezer, que tinha dito: O mundo foi criado no mês de Tishrei, e todos os cálculos a respeito do sol e da lua são baseados em quando eles foram criados.
§ O rav Naḥman bar Itzhak disse: Quando a Mishná diz que o primeiro de Tishrei é o Ano Novo para 'os anos', fala sobre o julgamento, pois naquele dia o Divino julga o mundo durante todo o ano, como está dito: “É a terra cuidada por HaShem, seu Elohim. Os olhos de HaShem, seu Elohim, estão sempre sobre ela, do começo ao fim do ano.” (Devarim 11 : 12); indicando que desde o início do ano é feita uma avaliação do que acontecerá no final do ano.
A Guemará propõe uma questão: De onde é que se sabe, que o dia do julgamento é em Tishrei? Do que está escrito: “Soem o Shofar e Rosh Hodesh e na lua cheia, nas festas das peregrinações,” (Tehilim 81 : 4). Qual é o dia do festival...
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...no qual a lua está coberta, ou seja, escondida? Você deve dizer que este festival é Rosh HaShanah, que é o único Festival que ocorre no início de um mês, quando a lua não pode ser vista. E está escrito no próximo verso: “Pois essa é uma lei em Israel, uma ordem do Elohim de Iáacov” (Tehilim 81 : 5), o que implica que este seria o dia do julgamento.
Com respeito a este mesmo verso, os Sábios ensinaram num baraita: A frase “pois, essa é uma lei em Israel, uma ordem do Elohim de Iáacov”; ensina que o tribunal celestial não se reúne para julgamento até que o tribunal terrestre consagre o mês, ou seja, uma vez que o Sanhedrin declare aquele dia como Rosh HaShanah.
Foi ensinado em outro baraita: O verso afirma: “essa é uma lei em Israel”, disso se deduz somente, que isto se refere ao dia do julgamento para o povo judeu; Mas, de onde eu deduzo que este dia, também é o dia do julgamento para as nações do mundo? Do que o verso declara: “uma ordem do Elohim de Iáacov”, que governa o mundo inteiro. Sendo este o significado, qual é o sentido do verso afirmar: “uma lei em Israel”? Isso pretende ensinar que o povo judeu é julgado primeiro.
A Guemará observa: Este conceito, está de acordo com a opinião do Rav Ḥisda, tal qual o Rav Ḥisda disse: Quando um rei e uma comunidade são trazidos diante deo Divino, para julgamento, o rei é trazido para julgamento primeiro, como está declarado: “Que estas minhas palavras, as quais eu usei em minha petição diante de HaShem, cheguem à presença de HaShem, nosso Elohim, dia e noite, para que ele defenda a causa deste servo e a causa do povo de Israel, dia pós dia.” (Melahim Alef 8 : 59) Este verso é da reza do rei Shlomo na ocasião da dedicação do Templo, e ele se refere a si mesmo como um servo de Elohim.
Qual é a razão de o rei ser trazido à julgamento primeiro?
Se você preferir, diga que o motivo é não ser uma conduta apropriada o rei ficar do lado de fora esperando que o julgamento de seus súditos termine.
E se você preferir, diga que o rei seria trazido a julgamento primeiro, de modo que ele possa ser julgado, antes que a ira divina se intensifique, e ele poderia, deste modo, se livrar de um julgamento excessivamente severo.
§ A Mishná ensina: O primeiro dia de Tishrei é também o Ano Novo para se calcular os anos de Shemitá.
A Guemara pergunta: De onde derivamos isso? Do que está escrito: “Mas no sétimo ano haverá um Shabat de descanso solene para a terra” (Vaicrá 25 : 4), e aprendemos por meio de uma analogia verbal entre uma ocorrência do termo “ano” e outra ocorrência do termo “ano” que o ano começa para este propósito a partir de Tishrei, como está escrito: “Desde o início do ano” (Devarim 11 : 12). O último verso se refere ao ano que começa, no início da estação das chuvas, ou seja, em Tishrei.
A Guemará propõe uma dificuldade: Mas então, teríamos que aprender por meio de uma analogia verbal entre uma ocorrência do termo “ano” e outra ocorrência do termo “ano” para concluir que, nesse mesmo raciocínio, o ano começaria em Nissan, como está dito : “este mês será apara vocês, o primeiro mês do ano” (Shemot 12 : 2), e esta referência seria a Nissan.
A Guemará responde: Os Sábios derivaram o sentido do termo “ano” que aparece no verso sobre o ano de Shemitá, onde os meses não foram mencionados junto do termo “ano” que aparece no verso em Devarim citado, onde meses também não foram mencionados junto. E eles não derivaram o sentido do termo "ano" onde os meses não foram mencionados junto, e o termo "ano" que aparece no verso onde os meses foram mencionados junto, por dizer, "este vês será para vocês o primeiro mês do ano."
§ A Mishná ensina: O primeiro dia de Tishrei é também o Ano Novo para os Anos de Iovél.
A Guemará pergunta: Seria o Ano Novo dos Anos de Iovél no primeiro dia de Tishrei? Mas, por acaso o Ano Novo para os Anos do Iovél não seria no décimo dia de Tishrei, no Iom Kipur? Como está escrito: “9 Então no décimo dia do sétimo mês, no Iom Kipur, soem o toque do Shofar; soem o Shofar em toda a sua terra; 10 e consagrem o quinquagésimo ano, anunciando a liberdade por toda a terra a todos os seus habitantes. Será o Iovél para vocês; cada um volte para a terra de sua propriedade, à sua família.” (Vaicrá 25 : 9, 10).
A Guemará responde: De acordo com a opinião de quem, é o ensino desta Mishná?
É conforme a opinião do rabino Ishmael, filho do rabino Ioḥanan ben Beroka, como foi ensinado num baraita: Qual é o sentido pretendido, quando o verso afirma: “e consagrem o quinquagésimo ano”? Uma vez que é declarado que o Shofar deve ser tocado “no Iom Kipur”, alguém poderia pensar que o ano seria consagrado somente a partir do Iom Kipur. Portanto, o verso declara: “e consagrem o quinquagésimo ano”, ensinando que o ano é consagrado desde o seu início em diante, a partir do primeiro dia de Tishrei, quando o ano realmente começa.
A partir daqui, o rabino Ishmael, filho de rabino Ioḥanan ben Beroka, disse: Desde Rosh HaShanah até Iom Kipur do Ano do Iovél, os escravizados hebreus não haviam ainda sido libertados e enviados para suas casas, porque o Shofar ainda não havia sido tocado. E também não estavam escravizados a seus senhores, pois o ano de Iovél já tinha começado. Em vez disso, eles comiam, bebiam e se alegravam, e usavam suas coroas na cabeça, como pessoas livres. Assim que Iom Kipur chegasse, o tribunal tocaria o Shofar, os escravizados eram liberados para voltarem a suas casas e os campos que foram vendidos seriam devolvidos aos seus proprietários originais.
A Guemará pergunta: E os rabinos que discordavam do rabino Ishmael, filho do rabino Ioḥanan ben Beroka, como é que eles interpretavam o verso: “e consagrem o quinquagésimo ano”?
A Guemará responde: Eles derivavam disso, que você consagra os anos, mas você não consagra meses. De acordo com esta opinião, o tribunal era obrigado a consagrar o Ano de Iovél com uma proclamação: Este ano é consagrado; mas não era ordenado a consagrar os meses, com uma proclamação semelhante.
Foi ensinado em outro baraita: Qual é o sentido pretendido, quando o verso afirma: “Esse quinquagésimo ano, será um Iovél para vocês” (Vaicrá 25 : 11)? Visto que já foi declarado: "e consagrem o quinquagésimo ano", se pode pensar que, tal qual o Ano do Iovél era consagrado desde o seu início, também seria consagrado no final em diante, ou seja, permaneceria consagrado até o Iom Kipur, daquele quinquagésimo primeiro ano. E não se surpreenda, imaginand por qual motivo alguém pensaria deste modo, já que por acaso nós não adicionamos regularmente "do profano ao sagrado", estendendo um período de tempo sagrado, acrescentando a ele antes e depois a partir de um período de tempo comum? Portanto, o verso declara: “Esse quinquagésimo ano, será um Iovél para vocês” para ensinar que você consagra o quinquagésimo ano, mas você não consagra o quinquagésimo primeiro ano, nem mesmo parcialmente.
